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Ex-presidente já se preocupa em defender legado político

KENNEDY ALENCAR
São Paulo
O ex-presidente Lula tem consciência de que o fracasso do governo Dilma tende a inviabilizar a sua eventual candidatura à Presidência em 2018. Ele também está preocupado com o crescente desgaste do PT, que virou uma espécie de “Geni”. Razão: no cada vez mais provável cenário de alternância de poder daqui a quatro anos, sua herança política poderá ser desconstruída.
Diante da dura realidade, a única saída pública que Lula encontrou foi defender o governo Dilma, apontar alguns erros da sucessora e criticar os opositores e a imprensa. Esse roteiro foi seguido à risca, na quarta-feira, num evento partidário em São Paulo: em meio a alfinetadas nos tucanos e na mídia, o ex-presidente fez uma defesa enfática do PT, do governo e de Dilma Rousseff.
No entanto, convém lembrar que a oposição e a imprensa não inventaram o escândalo da Lava Jato nem foram responsáveis pela política econômica desastrada do primeiro mandato de Dilma.
O que Lula está fazendo deve ser entendido no contexto do debate político para tentar salvar o seu legado na Presidência e impedir que o PT definhe como uma das principais forças partidárias do Brasil. Carismático, está cumprindo o seu papel de líder inconteste de um campo de forças. É a política como ela é.
Apesar da versão lulista para o público, existe uma outra apresentada nos bastidores. Reservadamente, o ex-presidente faz críticas duras à sucessora. A primeira delas é dizer que a presidente não consegue admitir erros, um pressuposto para a correção de rota. Na quarta, ele afirmou que foi um equívoco a presidente ter segurado o reajuste dos preços dos combustíveis. Mas foi só um aperitivo do que realmente pensa.
O ex-presidente também está careca de ouvir de empresários, ministros e ex-ministros de Dilma que a presidente se comporta, com frequência, como alguém que só tem lições a ensinar e pouca disposição para a dialogar. É aquela frase lulista que já ficou famosa no noticiário: “Ela não escuta”.
Recentemente, chegou ao conhecimento do ex-presidente um episódio no qual um ministro do PMDB sugeriu que Dilma levasse a sério a possibilidade de reduzir o número de ministérios, como forma simbólica de sinalizar que o governo também estaria fazendo a sua cota de sacrifício e não apenas cobrando da sociedade sangue, suor e lágrimas.
De acordo com a versão do ministro, Dilma arremessou um calhamaço sobre a mesa e pediu, com rispidez, que o auxiliar apontasse quais pastas ele cortaria. E não deu o menor espaço para debater o tema a sério.
Outra história clássica sobre a presidente é a pergunta retórica que ela faz aos ministros e assessores quando se sente questionada a respeito de alguma decisão.
Ao longo dos anos, Dilma recorreu diversas vezes a essa fórmula para justificar o uso político da Petrobras a fim de controlar a inflação. A pergunta é a seguinte: “Quantos votos você recebeu? Eu tive mais de 50 milhões de votos…”. Daí em diante, o interlocutor ouve um sermão. No caso da maior estatal brasileira, a presidente chegava a emendar: “Eu sou presidente da República. Não sou presidente da Petrobras.” Discussão encerrada.
A atitude de quem parece se julgar dona dos votos e do governo incomoda Lula e o PT. Petistas costumam dizer que a presidente deveria ter a humildade de reconhecer que os votos não são dela, mas de um projeto que aplicou políticas públicas que mudaram o Brasil e melhoraram a vida dos mais pobres.
Em 2010, Dilma nunca havia disputado um cargo eletivo. Chegou ao Palácio do Planalto devido ao prestígio de Lula e das políticas públicas do PT, para as quais, diga-se, ela contribuiu bastante como ministra. Lula sempre fala que, como chefe da Casa Civil, não havia quem cumprisse ordens melhor do que a atual presidente.
Na reeleição, em 2014, Dilma quase perdeu a Presidência devido aos erros na economia e na política. Bateu o desespero no primeiro turno, quando houve a onda Marina Silva, e também na segunda etapa, no momento em que Aécio Neves esteve à frente nas pesquisas.
Mais uma vez, Lula foi chamado a entrar em campo. Queimou capital político e pessoal, porque atacou Aécio, com quem tinha bom relacionamento. Ficou na conta de Lula a estratégia de enfrentar Marina com dureza. O ex-presidente resolveu a partida a favor de Dilma _afinal, ele não tinha mesmo alternativa.
Na formação de governo, Lula indicou Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, para ministro da Fazenda. Trabuco não topou, e Dilma e Aloizio Mercadante recorreram a Joaquim Levy, que acabou aprovado por Lula. Foi a decisão mais acertada da presidente na montagem do novo ministério.
Para registro histórico, Lula aconselhou Dilma a substituir Guido Mantega logo após as manifestações de junho e julho de 2013. Mas a presidente manteve o então ministro da Fazenda usando um argumento que hoje parece frágil: demitir Mantega seria admitir um fracasso que enfraqueceria Dilma e o governo.
É irônico que a política econômica deste segundo mandato seja exatamente a confissão do fracasso dessa “nova matriz macroeconômica” aplicada entre 2011 e 2014 pelo trio Dilma, Mantega e Arno Augustin, o ex-secretário do Tesouro que abusou das maquiagens e pedaladas para fechar, de mentirinha, as contas públicas.
Em fevereiro de 2015, o Brasil teve o pior resultado do Tesouro desde 1997 porque Joaquim Levy parou de pedalar e maquiar. O ministro da Fazenda não postergou gastos porque considerou isso “importante para manter a economia funcionando”. O “ortodoxo” Levy agiu de modo mais “desenvolvimentista” do que o antecessor.
Dilma, Mantega e Augustin praticaram uma política fiscal irresponsável no primeiro mandato. Hoje, o país sobe juros para combater uma inflação alta num cenário de recessão à vista, aplicando um duro ajuste porque precisa recuperar a credibilidade fiscal que já havia conquistado em 2004. É dose pra leão.
Na política, Dilma cometeu todos os erros que poderia em relação ao PMDB. Isolou o vice-presidente da República, Michel Temer, um político hábil no manejo com o Congresso. Criou uma crise permanente com os peemedebistas a partir da reforma ministerial que se arrastou por meses na virada de 2013 para 2014. A teimosia de Dilma pavimentou o caminho de Eduardo Cunha rumo à presidência da Câmara. Na campanha à reeleição, praticamente metade do PMDB abandonou a petista e desejava a vitória do tucano Aécio Neves.
Dilma foi reeleita apesar dos seus erros.
Mais uma vez, Lula e as políticas públicas do PT fizeram a diferença. Imaginar que os 54 milhões de votos são dela é flertar com uma mescla de irrealismo com arrogância. Os votos pertencem a um projeto político que ameaça ser varrido do mapa por erros de Dilma e do próprio PT, que se confundiu com a corrupção no mensalão e na Lava Jato. E também por equívocos de Lula, que escolheu Dilma como sucessora e tem a sua cota de responsabilidade nos escândalos políticos que assombram a atual administração e acuam uma presidente honesta, que tem o genuíno desejo de acertar, mas nem sempre da maneira mais efetiva.
Seria mais produtivo parar de culpar a crise econômica internacional, a falta de chuva, os aliados rebeldes, a oposição golpista, a imprensa parcial e tentar entender como o governo petista conseguiu a façanha de ostentar apenas 12% de índice de ótimo/bom e alcançar 64% de ruim/péssimo, como acabou de aferir a última pesquisa CNI/Ibope. Essa reflexão precisa ser feita por Dilma, mas também por Lula e o PT.

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