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Petista histórico, com quatro mandatos de deputado e dois de senador e alcance recorde de votos no Rio Grande do Sul, Paulo Paim se destacou nas últimas semanas por suas críticas ao ajuste econômico e admite que pode deixar o partido; "É uma possibilidade, que terá de ser definida até o final do ano", afirma, em entrevista a Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; enquanto os petistas estão em Salvador, para o 5º Congresso do PT, ele ficou na rota Brasília-Porto Alegre; "Minha presença não poderia ajudar o PT numa hora como essa", declara; para ele, as medidas de retração do governo não foram "problema de explicação nem de comunicação"; "O governo errou na tática, na estratégia, na economia e no social. Fez um arrocho e quem vai pagar a conta é o trabalhador, a viúva, o desempregado", dispara

Um dos pontos de convergência política entre o senador Paulo Paim e a maioria de militantes e dirigentes do Partido dos Trabalhadores reside na visão sobre o Congresso do PT, que teve início nesta quinta-feira em Salvador.
Tanto Paim como a maioria dos integrantes do PT estão convencidos de que o encontro é uma atividade fora de hora, sem um sentido político claro, que pode até contribuir para agravar uma situação interna definida como desesperadora.
Mas enquanto a maioria dos petistas começou a tomar o rumo de Salvador já na noite de quarta-feira, Paim permaneceu em Brasília e depois vai a Porto Alegre.
–Minha presença não poderia ajudar o PT numa hora como essa, disse ele ao 247, na manhã de quinta-feira. Todo mundo conhece minhas críticas ao PT e ao governo. Meu receio é que, no ambiente de debate e conflito de todo Congresso, eu pudesse me mostrar mais agressivo do que gostaria, contribuindo para o problema e não para a solução.
247 — Qual sua opinião sobre o futuro do PT?
PAIM — Eu tenho dito o seguinte: Ou o PT muda, ou nós mudamos.

247 — Essa mudança inclui a possibilidade de sair do partido?
PAIM — É uma possibilidade, que terá de ser definida até o final do ano. De qualquer modo, as coisas precisam estar resolvidas antes de março, quando as férias terminam e o trem começa a andar.

247 — Lideranças petistas, como Marta Suplicy, romperam com o partido fazendo críticas pesadas e muito barulho.
PAIM — Se eu sair, o que é só uma possibilidade, nunca será uma coisa agressiva. Vai ser com diálogo, buscando de qualquer forma manter uma política de alianças. Sempre fui uma pessoa a favor da unidade dos trabalhadores. Lá atrás, há mais de 30 anos, quando ocorreu o racha entre as duas grandes lideranças sindicais nacionais, eu era a favor de manter uma central só, uma verdadeira central única. Lutei muito para isso. Mas não foi possível e fiquei como secretário-geral e depois como vice presidente da CUT.
Presidente do sindicato de metalúrgicos de Canoas durante o regime militar, liderança histórica da CUT e do Partido dos Trabalhadores, a partir de 1986 Paim acumulou quatro mandatos como deputado federal. Depois de 2002 obteve dois mandatos como senador. Em 2010 ele foi reeleito para o Senado com 4 milhões de votos — a maior marca já obtida por um senador gaúcho em qualquer época, e uma das mais elevadas, proporcionalmente, em termos nacionais.
Em 2014, Paim enfrentou um constrangimento pesado, que ajuda a espelhar o universo de intrigas e disputas internas no partido. Empenhado pela reeleição de Tarso Genro ao governo de Estado, e de Olívio Dutra ao Senado, e de Dilma Rousseff à presidência, era um convidado frequente na maioria dos comícios — mas a festa se encerrava sem que fosse convidado a discursar. Pode parecer pouco, para um leigo, frequentemente aliviado diante da notícia de que um pronunciamento foi cancelado. Para quem domina as regras da etiqueta, porém, é uma grosseria equivalente, no universo político, a convidar determinada pessoa para um jantar, servir fartamente os demais convidados mas levar o prato embora antes que ela pudesse servir-se. Isso aconteceu em Porto Alegre, num comício onde Paulo Paim até ocupava uma posição de honra à mesa.
A cena se repetiu em Canoas, onde o senador chama sindicalistas e moradores pelo nome. Em Guajuvira, bairro de Canoas onde anos atrás Paim, já deputado federal, organizou a invasão de um conjunto habitacional abandonado, recomendando aos novos moradores que plantassem rosas em seus jardins, a caranava eleitoral também apareceu. Paim, no entanto, sequer foi convidado a subir na mesma carroceria do caminhão em que se encontravam os candidatos principais.
Em busca de uma explicação para esse comportamento, as duas assessorias — do senador e da campanha — mantiveram conversas ásperas e inconclusivas. O argumento era de caráter político-organizativo. Fora acertado entre os coordenadores da campanha que só candidatos a cargos majoritários e presidentes de partidos políticos teriam direito a um pronunciamento perante o eleitorado reunido — e por essa razão o senador de 4 milhões de votos, raridade num palanque onde a magreza eleitoral dos candidatos logo mostraria os ossos, não fora convidado. Qualquer que fosse a razão real, em 2014 o PT gaúcho não ganhou o Senado e o governador Tarso Genro não conseguiu passar ao segundo turno. Para observadores do caso, o comportamento só explica pela visão de quem está tão convencido da própria vitória que não quer dividir esforços para não ser levado a partilhar os louros, mais tarde.
Recusando-se a fazer comentários sobre o episódio, ao longo da entrevista ao 247 Paulo Paim deixou escapar, em outro contexto, uma frase que pode estar relacionada à situação: "no PT, forças internas se tornaram partido dentro do partido."
Capaz de construir, ao longo de 29 anos, uma folha irrepreensível de aliado dos direitos dos trabalhadores e da população pobre, Paim entrou em 2015 como um adversário duro do ajuste (que ele chama de "arrocho"). Como um dos principais articuladores da votação que flexibilizou o fator previdenciário, Paim estabeleceu uma aliança com o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que estimulou a dissidência do bloco governista, inclusive o líder do PT Ricardo Zarattini, a votar contra o governo. No Senado, Paim havia garantido, na mesma época, pelo menos 41 votos a favor da flexibilização.
Ele está convencido de que na devida hora a votação será muito maior, avaliação aprovada sem muita cerimônia pelas lideranças petistas da casa, o que deixará Dilma Rousseff sem saída. "A presidente vence se aprovar a mudança. Será uma oportunidade para ela. Mas a Dilma será derrotada se resolver vetar: neste caso o Congresso se une para derrubar o veto."
Habituado a manter conversas com Luiz Inácio Lula da Silva na qual reaparecem, compreensivelmente, sinais da velha camaradagem de sindicalistas, Paim não deixa de lembrar uma afirmação do ex-presidente, num diálogo recente, no qual o tom de voz ameaçava se tornar grave demais. "Ele me disse uma frase que me deixou extremante feliz: 'não há nada no estatuto do PT que obrigue você votar contra sua história.'"
Andando atrás dessa história, Paim decidiu criar uma agenda fora de Brasília. Depois da segunda semana de maio, quando reuniu uma platéia de 700 sindicalistas num auditório do Senado, ele traçou um roteiro de atividade em diversos estados brasileiros. Já reuniu 700 lideranças na Assembléia Legislativa de Minas e perto de 1000 em Florianópolis. No dia 19 estará em Curitiba, no dia 26, em Porto Alegre e em São Paulo, no dia 29. "O maior erro nessas horas é deixar de ouvir o que a rua está dizendo."
Na manhã de quinta-feira, tomando chá numa lanchonete do Senado que define como "meu escritório", Paulo Paim recebia uma caravana de cumprimentos pela aprovação do Estatuto da Pessoa com Deficiência. (Foi o terceiro de sua autoria. Antes, ele aprovou o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Igualdade Racial). Na véspera, discursando na tribuna do Senado, ele havia lembrado da irmã, Marlene, falecida, que era cega — e mesmo assim lhe ensinara tantas coisas importantes na vida. No dia seguinte, voltou a tratar de assuntos econômicos.
247 – Uma crítica frequente ao governo é dizer que as medidas econômicas foram mal explicadas.
PAIM — Discordo. Não foi um problema de explicação nem de comunicação. O governo errou na tática, na estratégia, na economia e no social. Fez um arrocho e quem vai pagar a conta é o trabalhador, a viúva, o desempregado. A Dilma está fraca porque errou e perdeu apoio em sua própria base. Este é o choque que o povo está vivendo.

247 – O que poderia ser feito?, pergunto.
PAIM — O governo poderia ter agido com mais franqueza. Se a situação estava mesmo tão ruim como se disse depois, seria possível tomar algumas medidas com essa finalidade. As pessoas entenderiam, desde que os sacrifícios fossem partilhados entre todos. O difícil é entender quem dizia que antes tudo estava muito bem e depois diz que tudo ficou muito ruim. Só espero que não queiram anunciar outra mudança, agora.

247 — Como assim?
PAIM — Até a semana passada, nada era possível, porque não havia dinheiro para nada. De repente, surgem 200 bilhões para investimentos? É difícil de acreditar.

247 — Muitos dirigentes dizem que o PT e o governo estão unidos e que não há como separá-los. Outros dizem o contrário. Qual sua opinião?
PAIM — Acho que deveríamos separar. O governo foi muito além de fazer uma aliança entre partidos. Fez uma pilha de partidos, um amontoado. Cada um tem seu projeto, cada um tem seu interesse. Isso não funciona. É uma canoa na qual cada um rema para um lado. Ela não sai do lugar.

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