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A revisão da meta fiscal anunciada na quarta-feira pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, caiu como uma bomba nos mercados. Nos últimos dias o dólar disparou, a bolsa caiu e aumentaram as apostas de que os juros devem continuar subindo e o Brasil perderá seu grau de investimento.
A meta, que diz respeito ao montante que o governo promete economizar para pagar os juros da dívida pública, passou de 1,1% para 0,15% do PIB.
Na visão de parte dos economistas e analistas do mercado, a mudança representou um afrouxamento do compromisso com o ajuste fiscal e a recuperação das contas públicas.
A equipe econômica nega o afrouxamento e diz que o objetivo era ampliar a "transparência" e lidar com a questão fiscal com "realismo", tendo em vista a queda na arrecadação do setor público do primeiro semestre deste ano.
"Acho que pode até haver algum exagero nas reações do mercado. Mas podemos ver isso como uma forma de pressionar o governo para que ele dê provas claras de que ainda está comprometido com o ajuste e que Levy não perdeu apoio", opina o economista Antônio Carlos dos Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Economistas e analistas consultados pela BBC explicaram, em cinco pontos, porque esse 'ajuste do ajuste' provocou a fúria dos mercados. Confira:

1) Escala da mudança

Até quarta-feira, o governo estava prometendo economizar em 2015 para o pagamento dos juros da dívida pública 1,1% do PIB, ou R$ 66,3 bilhões.
Muitos já consideravam a meta inviável tendo em vista a queda na arrecadação de quase 3% no primeiro semestre e as estimativas de que o PIB deve ter uma contração de 1,5% a 2% este ano. Mas a expectativa dos analistas era que a nova meta fosse de 0,4% ou 0,5% do PIB.
Levy e Barbosa revelaram que não só o governo reduziu sua promessa para uma economia de apenas 0,15% do PIB, ou R$ 8,7 bilhões, este ano mas que ainda há a possibilidade de que isso acabe sendo revertido em um deficit de R$ 17,7 bilhões (-0,3% do PIB) se iniciativas como o projeto para a repatriação de recursos de brasileiros no exterior não renderem o esperado.
"A revisão das metas de 2016 e 2017 também foi vista como muito radical e abrupta", explica Marcos Mollica, sócio-responsável pela gestão de recursos da Rosenberg Partners. A meta dos dois anos era de 2%. Agora, ficou em 0,7% e 1,3%.
O governo até anunciou um corte adicional de R$ 8,6 bilhões do orçamento para compensar a queda na arrecadação, provocada, em grande medida, pelo desaquecimento da economia. O mercado, porém, esperava mais cortes e um plano mais ambicioso para sanear as contas públicas.
"Talvez um corte no número de ministérios ou algo do tipo fosse interessante. O importante é que esse plano sinalizasse um compromisso com o ajuste", diz Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, em Londres.

2) Fator surpresa

Joaquim Levi (Reuters)
Analistas interpretaram mudança no ajuste fiscal como enfraquecimento da posição de Levy no governo
Semanas e até dias antes da mudança ser anunciada, o ministro Levy ainda se dizia comprometido com a meta de 1,1%, apesar de os dados da arrecadação já mostrarem que uma alteração seria necessária.
Para os analistas, a equipe econômica deveria ter começado a dar sinalizações de que haveria uma virada na meta no momento em que percebeu que esta poderia ser necessária.
"O modo como o anúncio foi feito, sem indicações prévias, acabou afetando a confiança na equipe econômica", diz Mollica. "Pareceu uma demonstração de fraqueza."
Para Santos, da PUC, "Levy errou na comunicação com os mercados."
Colmerauer concorda: "Eles tinham um plano anunciado há quatro meses e, de repente, trocaram de plano como quem troca de camisa. A imagem que isso passou para investidores estrangeiros é que o Brasil não está preparado para cortar gastos, que não há um consenso em torno do ajuste no governo e na sociedade."

3) Dúvidas sobre Levy

Levy sempre foi visto como o garante de um ajuste fiscal duro, enquanto Barbosa seria o defensor de uma abordagem mais gradualista.
A tese do ministro da Fazenda, avalizada por economistas ortodoxos, é que um ajuste contundente poderia gerar um "choque de credibilidade" na economia brasileira, criando as condições para uma retomada do investimento.
Mas Levy nunca foi visto como uma unanimidade dentro do governo. Seus críticos argumentam que um corte muito drástico nas contas públicas poderia lançar a economia em uma espiral recessiva em que esses cortes ampliam a recessão e a recessão derruba a arrecadação, levando à necessidade de mais cortes.
"O PT também é um grande crítico do ministro e por isso sempre houve dúvidas sobre em que medida ele tinha o apoio da presidente", diz Santos.
Com a revisão da meta, a percepção dos analistas é de que o ministro Joaquim Levy perdeu "a briga" dentro do governo, ou seja, que a tese "gradualista" ganhou terreno com a economia às portas de uma recessão.
O ministro nega que haja uma queda de braço no governo. "Mas acho difícil não ver essa mudança como um enfraquecimento de Levy", opina Santos.

4) Expectativa sobre grau de investimento

A revisão da meta fiscal deu força às apostas de que as agências de classificação de risco devem tirar do país o grau de investimento nos próximos meses, o que complicaria ainda mais a retomada do crescimento.
Sem o selo de bom pagador, paga-se mais para se financiar no mercado. Também fica mais difícil atrair investidores - há fundos de pensão que não podem colocar recursos em países que não são grau de investimento, por exemplo.
Mollica diz que na realidade o mercado já vem precificando a queda do grau de investimento há algum tempo: o crédito ao país já estaria mais caro que o de outros países com a mesma nota de risco.
"Mas é claro que quando a decisão for tomada haverá algum ajuste de posição", diz ele.

5) Contexto externo

Para Colmerauer, o timing da mudança da meta também "não poderia ter sido pior" em função do contexto externo.
"Uma série de incertezas sobre a economia chinesa está afetando o preço das commodities e faz com que os investidores estrangeiros há cerca de três semanas estejam muito sensíveis a qualquer instabilidade em países emergentes", diz Colmerauer.
"A sensação é de que uma tempestade pode estar a caminho na economia internacional e o que os ministros mostraram na quarta-feira é que o teto do Brasil está cheio de furos. Não estamos preparados."
                                                  Fonte:
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