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Secretária de seu escritório de advocacia revelou detalhes de como funcionava parte do esquema de recebimento de dinheiro em espécie


Por Leslie Leitão


“A prisão preventiva de Adriana Ancelmo permitirá pôr termo ao ‘ciclo delitivo’ da organização criminosa e da lavagem e ocultação de ativos ora apontados, empreendida de forma disseminada e ostensiva pelos envolvidos.” A frase finaliza a decisão de 20 páginas do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, para tirar a liberdade da ex-primeira dama do Rio de Janeiro, 19 dias após a prisão de seu marido, o ex-governador Sérgio Cabral.
A fundamentação do magistrado considerou que o Ministério Público Federal apresentou elementos robustos da participação da advogada no esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio adquirido pelo esquema criminoso comandado pelo marido. Um dos exemplos citados pelo juiz foi o sistema de recebimento de dinheiro em espécie, que chegava a 300.000 reais semanais, levados dentro de mochilas e entregues no escritório de Adriana, o Ancelmo Advogados.
Um  dos depoimentos mais importantes para isso foi da gerente financeira do escritório, Michelle Tomaz Pinto, que durante anos trabalhou como secretária da ex-primeira-dama. Ela contou em depoimento à Polícia Federal que o dinheiro era entregue por Luiz Carlos Bezerra, um dos mais próximos assessores de Cabral e apanhador das propinas do governador, de acordo com as investigações. “Que indagada a respeito da frequência com que Luiz Carlos Bezerra comparecia ao escritório de Adriana Ancelmo para entrega de valores em espécie, a declarante informou que era semanalmente, geralmente às sextas-feiras, e que presenciou as entregas durante os anos de 2014 e 2015; Que indagada como Luiz Carlos Bezerra transportava os valores, informou a declarante que era numa mochila. Que indagada a respeito da quantidade de dinheiro em espécie que era entregue semanalmente, informou a declarante que girava em torno de R$ 200.000,00 a R$ 300.000,00”, reproduziu Bretas.
Ainda de acordo com o depoimento da ex-secretária, o dinheiro muitas vezes era entregue à própria Adriana, ou ao seu sócio, Thiago Aragão, que guardava os valores em um cofre dentro do escritório.
O curioso é que apesar de comprovada sua íntima relação com  Luiz Carlos Bezerra, Adriana Ancelmo, em depoimento, disse desconhecer o envolvimento dele com a contabilidade de sua família. Nas investigações os agentes descobriram que Bezerra esteve ao menos 19 vezes no escritório e manteve contato telefônico com a primeira dama 98 vezes. O MPF conseguiu mostrar ainda que os gastos mensais da família de Cabral com cartão de crédito variavam entre 30.000 e 300.000 reais.
Mais uma vez Michelle Tomaz Pinto foi peça-chave da investigação. Ela revelou que várias vezes foi ela própria quem pagou as faturas, pagando em espécie em uma agência do Itaú na Avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca. Ela contou ainda que fazia pagamentos dos funcionários da família Cabral através de depósitos bancários também feitos em espécie.
Ex-assessora parlamentar de Cabral, Sônia Ferreira também prestou depoimento e revelou que era Bezerra (de quem ela havia sido sócia) que repassava recursos em espécie para quitar as despesas do ex-governador. “Que tais recursos eram repassados em dinheiro vivo e entregues na casa da depoente; Que nos últimos cinco ou seis meses tais entregas passaram a ser mais frequentes; Que os valores variam de 50.000 a 150.000; Que utilizava os valores para saldar despesas como pagamentos de funcionários de Sérgio Cabral, para Susana Cabral (ex-mulher), e outras despesas familiares”, disse ela.
Segundo Sônia, as despesas mensais previdência privada, funcionários, encargos trabalhistas, médicos, terapeutas, condomínio, IPTU, IPVA, seguro de carros, consertos de automóveis giram em torno dos 220.000 reais.
O juiz descreveu ainda que “as investigações em andamento sugerem, com base em elementos de prova consistentes, que Adriana Ancelmo não apenas tinha conhecimento do esquema de pagamento de propina capitaneado por seu marido, como também estaria envolvida diversos episódios de repasse de dinheiro envolvendo pessoas físicas e jurídicas relacionadas com a organização criminosa sob investigação”. As milionárias aquisições de jóias  (‘verdadeiras fortunas’) também serviram como fortes indícios para caracterizar a participação de Adriana no esquema criminoso. Somente em duas das principais joalherias do Rio de Janeiro, a H Stern e a Antonio Bernardo, foram gastos 6,5 milhões em espécie.

Joias compradas em espécie nos EUA

O Relatório de Inteligência 24396 do Coaf, no entanto, desmente a versão de Adriana de que não fazia compra de joias com dinheiro vivo. O órgão descobriu duas compras realizadas no exterior em espécie. A primeira em 7 de maio de 2013, na Christian Dior, adquirindo produtos identificados como “ready to wear” (pronto para uso) em Nova York, por 10.000 dólares. A outra foi em 30 de abril de 2014, na Van Cleef & Arpels America, em Shelton, Connecticut, também nos Estados Unidos. A compra, desta vez, custou 30.000 dólares.
Marcelo Bretas também citou o trecho da denúncia do MPF que mostra como o escritório de advocacia foi usado para ganhar contratos com concessionárias e prestadoras de serviço do governo, ao longo da administração Sergio Cabral. E citou alguns exemplos que acabaram não sendo esclarecidos pela primeira dama em seu depoimento à PF. Aliás, o próprio dono do Resort Portobello, Carlos Jardim Borges, por exemplo, disse que “pelo pagamento de 800.000 reais feito ao escritório de Adriana Ancelmo não houve qualquer serviço prestado”. E que não quis “promover nenhuma ação de cobrança ou outras medidas em consideração a pessoa de Sergio Cabral”.
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Os investigadores descobriram ainda um depósito de 328.475 reais do Portobello para a LRG Agropecuária, empresa em nome de Carlos Miranda, outro assessor e apontado como “laranja” do ex-governador. E mais 1,5 milhão para a SCF Comunicações e Participações Ltda., empresa de Cabral. São citados também pagamentos feitos ao escritório por várias empresas como Metrô Rio (1,9 milhão); CEG (865 000); Telemar (10,5 milhões); Light (3,6 milhões); Braskem (2,1 milhões); Fecomercio (13 milhões).
O juiz considerou que “a permanência de Adriana Ancelmo em liberdade representa evidente risco à ordem pública, sendo grande a probabilidade de que a mesma continuará na prática de ilícitos e persevere na ocultação do produto dos crimes perpetrados contra a Administração Pública”, mas deixou em aberta a possibilidade de rever sua decisão, já que ela é mãe de uma criança menor de 12 anos. “Assim, a expectativa é de que a medida cautelar extrema dure pelo menor tempo possível, equiparável talvez a uma confortável viagem à Europa que Adriana Ancelmo viesse a fazer, sem seus filhos, na companhia de amigos e colaboradores.”

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