Fonte:
Genro do Presidente
Trump vai ao Senado explicar contactos com russos
Casa Branca anunciou promoção de Jared Kushner a director do novo Gabinete de Inovação Americana, uma nova estrutura para transformar o funcionamento da Administração.
O genro de Donald Trump, Jared Jushner (ao centro, na foto) vai depôr no Senado REUTERS/JONATHAN ERNST
Jared
Kushner, o genro do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recompensado
com o cargo de conselheiro de política externa da Casa Branca pelo seu papel
durante a campanha eleitoral, foi chamado pelo comité de Serviços Secretos do
Senado para prestar contas sobre os seus contactos com dirigentes do Governo
russo e outros empresários ligados ao Kremlin, no âmbito da investigação à
alegada interferência de Moscovo na eleição presidencial norte-americana.
A Casa
Branca desvalorizou a convocação de Kushner pelo Senado, dizendo que o genro de
Donald Trump “nada tem a esconder”. E em vez disso, tentou chamar a atenção
para a nova responsabilidade atribuída a Kushner esta segunda-feira: o
Presidente quer que ele dirija uma nova unidade constituída no interior da Casa
Branca, cuja missão será rever todos os procedimentos da pesada burocracia do
Governo federal para que este possa funcionar de forma mais ágil e como uma
“grande empresa”. “Devemos trazer a excelência para o Governo, que devia ser
gerido como uma grande empresa americana”, comentou o genro do Presidente.
Jared Kushner, de 36 anos, é casado com a filha mais velha de Donald Trump, Ivanka, e tal como o seu sogro, não tinha qualquer experiência governativa ou de serviço público antes de entrar na Casa Branca. Além de se encarregar da gestão das empresas familiares, que tal como as de Trump, estão ligadas ao sector imobiliário, Kushner tornou-se um investidor dos media aos 25 anos de idade, com a aquisição do grupo Observer que publica o semanário tablóideNew York Observer.
Durante a
campanha presidencial e no período de transição, Kushner “foi o ponto de
contacto oficial para governos e dirigentes estrangeiros”, lembrou a Casa
Branca, justificando o interesse dos senadores, cujo inquérito às movimentações
russas para influenciar o desfecho da eleição dos EUA tem decorrido de forma
bastante mais discreta do que o processo em curso na Câmara dos Representantes,
com a maior parte das audiências a acontecer à porta fechada. Para
quinta-feira, está marcada a primeira sessão pública, com os senadores a
entrevistar dois especialistas em cibersegurança.
Outras duas
figuras influentes na campanha presidencial de Trump, Paul Manafort e Roger
Stone, também vão ser inquiridos pelo comité de Serviços Secretos do Senado.
Manafort foi o director da campanha de Trump de Março de 2015 a Agosto de 2016,
quando foi revelado o seu trabalho de lobby em nome de oligarcas russos,
próximos do Kremlin, e do antigo Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, um
aliado de Moscovo. E Stone, conselheiro de Trump e da sua campanha, já
confirmou contactos com a Guccifer 2.0, a empresa tecnológica que segundo os
serviços secretos é uma testa-de-ferro para os hackers russos que piratearam os
servidores do Partido Democrático e da campanha presidencial de Hillary
Clinton.
A audição de
Kushner por causa dos seus contactos com agentes russos não só vem alimentar as
desconfianças sobre uma eventual “colaboração” entre a campanha presidencial do
magnata nova-iorquino e os agentes da Rússia (que está a ser investigada pelo
FBI), como também dá força à tese de que Trump e os seus familiares estão a
usar a presidência para obter benefícios para os seus negócios.
Em Dezembro,
antes de Trump tomar posse, Kushner reuniu com o embaixador russo em
Washington, Serguei Kisliak, supostamente para discutir a necessidade de
melhorar as relações bilaterais e também de cooperar em matérias que contribuem
para a actual instabilidade no Médio Oriente, da guerra na Síria ao conflito
israelo-palestiniano. Nesse encontro, que decorreu na Trump Tower, em Nova
Iorque, participou também o ex-conselheiro nacional de segurança, general
Michael Flynn, que foi demitido por mentir sobre o teor das suas conversas com
Kisliak.
Outra das
reuniões que Kushner manteve – e que foi mantida em segredo até ser reportada
pelo The New York Times esta segunda-feira – foi com Serguei Gorkov, o
presidente do banco de desenvolvimento russo Vnesheconombank, uma das entidades
incluída na lista de sanções aplicadas pelos EUA e a União Europeia depois da
invasão da Crimeia pela Rússia, e conhecido por fornecer fundos a
empreendimentos favorecidos pelo Presidente Vladimir Putin.
No mesmo
período em que decorreram estas reuniões, Kushner estava simultaneamente a
negociar o financiamento de um megaprojecto imobiliário da sua companhia
familiar em Nova Iorque: uma gigantesca torre de escritórios na 5.ª Avenida,
que será reconstruída com dinheiro do Anbang Insurance Group, uma companhia
chinesa ligada ao Governo de Pequim.
O novo cargo
de Jared Kushner à frente da nova agência para a inovação, hoje anunciado,
também mereceu críticas no mesmo sentido: para vários comentadores e analistas,
a questão dos conflitos de interesses volta a levantar-se, até porque o gabinete
criado por Trump poderá ter autoridade para eliminar ou privatizar certas
responsabilidades e funções do Estado. A mulher de Kushner, Ivanka Trump, que
também ganhou recentemente um gabinete na Casa Branca apesar de não ter nenhuma
função oficial na Administração, vai “colaborar” com o marido na direcção do
novo gabinete. “Parece uma receita para a cleptocracia a uma escala
inimaginável”, atacou Clara Jeffery, editora da revista (liberal) Mother Jones.
A equipa da
Casa Branca apresentou a nova estrutura como uma força de intervenção rápida
(ou SWAT team), incumbida de rever o funcionamento de todos os departamentos e
agências do Governo e incorporar as ideias e boas práticas utilizadas pelas
maiores empresas norte-americanas, como a IBM, Apple e Microsoft, para que a
Administração se torne mais tecnológica, eficiente e transparente. Sob
diferentes designações, idênticos gabinetes do tipo SWAT existiram nas
presidências de Barack Obama, George W. Bush ou Bill Clinton para melhorar a
gestão da burocracia federal, melhorar os resultados de programas do Governo e
eliminar gastos – a diferença é que entre as suas atribuições nunca esteve a
eliminação de competências do Estado, um objectivo que foi enunciado pelo
estratega político da Casa Branca, Steve Bannon.
MAiS Noticias em Público.pt
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